O jogo

Já te sentiste como se não fosses nada? Como se não importasses a ninguém? Já sentiste um vazio de tal maneira que te corrompe a alma, que como que desmembra toda a ínfima parte do teu ser? Como que te deixa para morrer sem qualquer piedade, sentes o teu ser a desmoronar-se sem teres controlo, tudo o que antes vias nitidamente hoje vês distorcido pois os teus olhos estão como que um mar revoltado, cheio de ondas, ondas violentas que arrastam tudo consigo.

Não és nada e não és ninguém, foste um erro e continuas a sê-lo, não há nada que possas fazer para mudar isso. 

Sabes aquela voz que vive dentro de ti? Aquela voz que te diz que não vais conseguir? Aquela voz que te atormenta e te deita abaixo cada vez que estás feliz? Aquela voz que é mais forte que tu? Aquela voz que se ri constantemente de ti? Aquela voz... Aquela voz que és tu. Sim, tu, tu destróis-te a ti mesmo, que ser ridículo o teu, nem a ti mesmo te controlas, não controlas nada, és inútil, és apenas uma marioneta neste jogo demente que é a tua vida, não controlas nada, não alcanças nada, patético. 

Não te custa andar sempre com uma máscara? Não te custa fingir ser algo que não és? Diz-me, não te custa? Não te magoa? Não te mete nojo? Diz-me, não tens nojo de ti próprio? Não te sentes repugnado com a falsidade do teu ser? Meu bem... Não te preocupes, não estás sozinho, eu sou tal e qual como tu, sinto exactamente o que tu sentes, a mesma agonia, o mesmo desprezo, o meu corpo está inerte como o teu, os meus olhos deixaram de ver, o meu corpo deixou de sentir, o meu cérebro deixou de raciocinar, o meu coração deixou de ter emoções, o coração, esse é outro, que objecto inútil, tudo em ti é inútil, já reparaste? Dás me pena, todo o teu ser me dá pena... Tentas pedir ajuda mas há algo que te impede, a tal voz, o tal orgulho, a tal máscara...
Toda a tua vida será resumida a esse tormento, nada nunca irá mudar, apenas tens de aprender a viver com isso, a seres um pião num jogo sem importância, mas tem cuidado, afinal, estamos a falar da tua vida...